segunda-feira, 29 de novembro de 2010

Tablets, caminho sem volta?

Killer application, esse é o conceito que move a líder do mercado de tablets no mundo, a Apple. Um Killer app é algo que carrega consigo uma inovação capaz de alavancar vendas com crescimento acelerado, pode se resumir em um produto que é capaz de virar sinônimo da categoria em que se insere, criar novos mercados. É o caso de iPod, iPhone e, atualmente, do iPad.

Tenho acompanhado o mercado de comunicação de uma perspectiva bastante favorável, a de uma agência de publicidade. E tenho visto os grandes grupos de comunicação se movimentando diante das novas plataformas de comunicação, notadamente, as móveis. Em um primeiro momento, houve uma movimentação em torno da criação de sites e aplicativos mobile. Veículos e anunciantes em busca de novos pontos de contato com seus públicos. Agora, temos acompanhado a indústria informativa em busca das melhores soluções em torno de aplicativos para tablets.

E há alguns indícios que mostram que isso pode ser um caminho sem volta. A cadeia que compõe o mercado de tablets está aquecida:
• A indústria informativa, obviamente, busca se reciclar alcançando novas audiências e novos investimentos publicitários. Um modelo mais pertinente e atual ao consumidor final. Como conseqüência do efeito rede (de usuários), a demanda do “sedento” mercado anunciante para falar com os early adopters. E, como conseqüência, criar uma curva de aprendizado em torno da novíssima plataforma.
• O mercado de Telecom. As operadoras de telefonia, que buscam novas receitas vindas de usuários “Premium”, com alavancagem dos serviços de valor agregado (VAS).
• O mercado de eletrônicos. Produtos Apple são, por si só, desejos de consumo. O iPad já carrega consigo a responsabilidade de ter sido o gadget com o mais acelerado crescimento em vendas de toda a história. Foram vendidas mais de 3 milhões de unidades globalmente em apenas 80 dias, ultrapassando a performance do iPhone. De olho nesse crescimento e tendência, a Samsung sai na frente – inclusive da própria Apple, que está longe de navegar sozinha nesse oceano – e começa a vender seu tablet Galaxy Tab junto às operadoras no Brasil. Outros competidores de peso já tem seus produtos na prateleira, prontos para esse Natal: BlackBerry Playbook e o HP PalmPad.

Como resultado dessa combinação, nesse segundo semestre de 2010 acompanhamos ótimos trabalhos “na rua”, como o aplicativo de Veja e as soluções do Estadão e do O Globo. Trabalhos que não devem nada para soluções apresentadas em mercados tidos como “mais desenvolvidos”.

Essas e outras empresas de mídia obtiveram investimentos com a venda de patrocínios para iPad. Assim como foi com a internet, esses investimentos promovem uma reciclagem nos veículos de comunicação, pois são investimentos que não ficam restritos à plataforma móvel, mas sim são distribuídos por outras plataformas, como web e, até mesmo, para o meio impresso. Uma nova plataforma que gera uma nova abordagem ao mercado publicitário, ativando anunciantes, mantendo o mercado aquecido.

Agências e anunciantes não devem esperar por volume nesse primeiro momento. Esse é o momento de tirar aprendizados da novíssima plataforma. Mais do que se fazer um anúncio com interação para o iPad, acompanhar a curva de crescimento nas métricas. Crescimento de “exemplares vendidos”, page views, crescimento de veículos oferecendo suas versões para tablets. Acompanhar a diversidade de fabricantes e seus diferenciais tecnológicos.

Pensar no desenvolvimento de conteúdos exclusivos, explorando as possibilidades da plataforma. A apropriação do conceito de transmedia storytelling pode funcionar como diferencial de vendas e, mais que isso, se apresentar como uma nova forma de contar uma história ao espectador, mais atual, rica e envolvente.

Estamos tratando de um mercado que apresenta crescimento exponencial. Portanto, faz-se urgente o estudo, a pesquisa e os aprendizados com boas práticas globais. Em pouco tempo, teremos um novo meio com uma rede de usuários e veículos interessantes. Usuários que carregarão, mais do que nunca, um veículo em mãos. Já imaginou as possibilidades de abordagem, segmentação e inteligência de mídia que esse cenário apresentará?


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Guardian.co.uk: Rupert Murdoch says Apple's iPad is a 'game-changer' for news media

Esse texto foi, originalmente, publicado no Blog do Grupo de Mídia SP em 24/11/2010.