domingo, 26 de abril de 2009

Miopia

Já dizia Saramago: “Se podes olhar, vê. Se podes ver, repara."
Afinal de contas, a internet é boa ou ruim à imprensa e ao jornalismo?
E todos os demais meios de comunicação que sofrem com sua ascensão, são vítimas de si mesmos, de uma visão distorcida acerca das mudanças no comportamento humano, ou pura e simplesmente da internet, que é uma "terra sem donos", onde tudo é gratuito?
Fato é que a internet não pára de crescer no mundo inteiro. E isso impacta diretamente no modelo de negócio dos grandes grupos de comunicação.
Duas matérias me motivaram a escrever esse post, uma da revista Galileu desse mês (abril/09) e outra da revista Veja dessa semana (com data de banca de 29/04/2009).
A da Galileu aborda a mudança no comportamento das pessoas no consumo de conteúdo digital. Com o título "O Futuro da TV", a revista mostra, de maneira imparcial, como as pessoas vem deixando de lado o hábito de sentar-se à frente da TV. Mas isso não quer dizer que elas não consomem mais esse tipo de mídia. Sim, elas consomem. Via internet e agora também através do celular. E a revista mostra exemplos, como o do Terra e UOL , que distribuem conteúdo de grandes geradores de conteúdo de qualidade, como Discovery Channel, AXN, Warner, MTV, TV Cultura e outros, e da própria Globo.com, que vê na web um canal de distribuição dos seus vídeos. Segundo a matéria, já são mais de 190 mil vídeos disponíveis no portal. E a emissora estima disponibilizar 17 mil adicionais a cada mês.
Ou seja, a Galileu aborda explicitamente a mudança de comportamento das pessoas e como as empresas de comunicação estão fazendo para se adequar a esse cenário.
Já a Veja prefere tomar cabo de uma das partes, a da imprensa que choraminga e que prefere se sentir vítima do crescimento da internet na vida das pessoas. Com o título "Inferno na Torre do Times", a revista aborda as dificuldades financeiras da compania norte-americana. Segundo Veja, o binômio "crise-internet" vem acabando com a imprensa. 
Fato é que os grandes grupos de comunicação não conseguem viabilizar um modelo de negócios puramente on-line. 
No caso dos jornais, as dificuldades financeiras são facilmente identificadas: altos custos para impressão, distribuição e diminuição de crescimento dos investimentos publicitários.
Mas Veja vai mais fundo e entra no conceito de qualidade da informação diante das novas tecnologias e se apropria de um trecho de entrevista do editor norte-americano Alan Mutter, em que diz "Vivemos a mais grave crise da história da imprensa". 
"A imprensa nunca esteve tão viva e livre", disse Paulo Henrique Amorim em palestra sobre a Blogosfera, na Faculdade Cásper Líbero, em algum ponto no tempo no ano de 2007, em que também participaram Caio Túlio Costa e Marcelo Coutinho.
Fatos relacionados:
No dia-a-dia da minha profissão de publicitário também me deparo com essas mudanças de comportamento. Enquanto a maioria se ocupa em choramingar as quedas de audiência da TV, outros poucos se preocupam em analisar para onde essa gente está indo;
Recentemente, analisei, através da ferramenta NetRatings, a evolução de cobertura de dois tipos de sites. 1, aqueles que se apropriam do modelo de comunicação tradicional "Um para Todos" (em suma, portais) e 2, aqueles que usufruem do conceito de "Web 2.0" em que o usuário participa ativamente na construção do conteúdo (blogs, redes sociais etc). O grupo 1 cresce em audiência bruta, porém menos que a média. Ou seja, vem perdendo participação na audiência. Já o grupo 2 cresce mais que a média e vem tendo cada vez mais share de audiência na web brasileira. Ou seja, a mudança de comportamento não é somente no que está dentro e fora da rede. O conceito de "Agenda Setting" fica para trás. Em contrapartida, o "on-demand" consolida-se.
Bom exemplo de adequação à realidade, todos os apresentadores do CQC se comunicam com seus telespectadores através de blogs e do Twitter, mantendo a proximidade, mantendo seu público fiel.
Paralelamente à elaboração deste post, estou me comunicando com amigos via MSN Messenger, Twitter e ainda escuto música no Blip.fm.
Enquanto isso, tem editor com a visão esbranquiçada em algum semáforo mundo afora.