Entrevista #2: Ana Balleroni, NBS
Dando continuidade às entrevistas realizadas aqui, falamos com Ana Balleroni, atual VP Nacional de Mídia da NBS. Balleroni é uma experiente publicitária, tendo passado por agências como Y&R, JWT e Leo Burnett. Em 2002, venceu o Prêmio Caboré como melhor profissional de mídia.
Rodrigo Almeida: Na sua opinião, o que afasta um anunciante do meio internet? Quais as barreiras que afastam o mundo da propaganda das novas tecnologias, das novas plataformas de mídia?
Ana Balleroni: Os anunciantes não estão afastados da Internet. Pelo contrário, eles estão ansiosos para estarem em um meio que passou a ser uma mídia de massa, de cobertura e de resultados. O grande problema, é que diferente da mídia tradicional, os formatos comerciais tradicionais da Internet envelheceram com uma a mesma velocidade do meio. Os anunciantes estão se afastando da comunicação feita através de banners, botões, etc. Eles querem formatos que tenham interação, proximidade e relevância para os internautas.
Com relação as barreiras, temos que pensar que a propaganda foi “criada”em um mundo onde audiência e meio eram nitidamente separados. Hoje isso mudou. Audiência e meio dentro da Internet, são exatamente a mesma coisa. Dessa forma, a criatividade tem que ser exercida de uma forma completamente distinta. A criatividade, na forma tradicional, não sustenta essa realidade.
E isso é muito difícil. As explosões criativas ou de repercussão, são feitas pelo “meio”. O pensamento criativo nesse caso, está mais ligado a estratégia que a criatividade.
Rodrigo Almeida: Como você enxerga a profissão do publicitário em um futuro próximo, daqui a 5 anos, com todas essas mudanças?
Ana Balleroni: As mudanças na profissão “publicitário” estão acontecendo há anos. E elas não começaram por causa da “internet”. Estamos vivendo um período de questionamento da nossa contribuição efetiva. E aí a conversa seria longa demais, porque passaria por uma desvalorização que o próprio negócio da propaganda se impôs. Não acredito que seja o fórum.
Mas se você me pergunta sobre as mudanças do mercado publicitário dentro do “mundo web”, eu afirmo que tenho dúvidas. Se por um lado, sabemos que vivemos em um País onde a web ainda é utilizada predominantemente por comunidades como Orkut, ou utilização prioritariamente de comunicação como o Messenger e e-mails, não acredito que vamos ter uma grande mudança no share de investimentos por meio de comunicação.
Veja o que aconteceu em Cannes esse ano. O grande prêmio veio de um case onde a efetividade esteve ligada a divulgação daquilo que chamamos de mídia de massa.
O case do “melhor emprego do mundo”, é um case típico de pensamento estratégico. Ele deu certo porque repercutiu em meios de massa paralelos a internet.
É isso o que acredito daqui a 5 anos : um mix de meios inteligente, estratégico, onde cada um deles tem sua função e efetividade.
Rodrigo Almeida: Na sua opinião, o que você imagina como sendo o futuro da mídia tradicional frente ao avanço exponencial das tecnologias de comunicação que surgem a cada dia?
Ana Balleroni: Acho que já respondi anteriormente, mas vamos lá: os meios são complementares. Essa é a grande inteligência da mídia. Hoje, ninguém faz sucesso isoladamente.
Essa apologia de “fim de mundo” parece uma coisa muito trágica.
Quando trabalhamos os meios dentro da suas características, de forma estratégia, utilizando um mix que reforce cada um deles, a comunicação é muito mais efetiva.
Ninguém vai morrer.
Mas o raciocínio será mais abrangente.
Rodrigo Almeida: Sabemos que as empresas de comunicação e anunciantes mais “tradicionais” ainda oferecem resistência com relação às inovações que a internet e seus derivados trazem. Como você enxerga isso?
Ana Balleroni: Você acha isso mesmo? Eu acho o contrário. Empresas de comunicação e anunciantes – tradicionais ou não – estão buscando as melhores soluções. Se ainda não sabemos defender é um problema nosso. Por isso estamos correndo atrás de pessoas, que contaminem e disseminem as oportunidades, inovações e retorno que a internet e seus derivados trazem. Quem trabalha em comunicação, tem que saber “comunicar”. E se a Internet é uma mídia de massa, basta saber como utilizá-la de forma eficiente. E até eu que sou velhinha, estou disposta a isso.
4 comentários:
Muito legal.
Mas minha dúvida complementar, que embora tenha sido respondida, ainda fica na cabeça: Onde é que discurso e prática se separam, e como fazer para que as coisas aconteçam?
Só fico com um pé atrás quando se fala que os anunciantes estão loucos para estar na internet, e que eles só estão buscando formas menos tradicionais para adentrar no meio.
Como em qualquer outro meio, não são todas as campanhas nem todos os anunciantes que irão fazer coisas diferentes e criativas. Porém, me parece que na internet, isso se torna desculpa para não trabalhar o meio, o que não acontece com os demais.
Parece-me que se espera das novas mídias digitais que elas sejam sempre diferentes, inovadoras, impactantes... E se não forem nada disso, elas perdem seu valor.
Sendo assim, a impressão que tenho é que apenas alguns poucos anunciantes aceitam trabalhar a internet e as mídias digitais como forma de construir marca, aproximar o consumidor e divulgar o produto, como se faz normalmente com TV, revista, rádio, etc.
O Arroz-com-Feijão da web pode ser tão forte e efetivo quanto o de qualquer outra mídia. Mas a expectativa que se cria faz com que mais e mais anunciantes prefiram não trabalhar com isso a não ser que tenham um case em mãos. Mas cases não acontecem com toda essa facilidade, e é aí que a internet se desvaloriza como mídia.
Enfim, é uma longa discussão, do tamanho da viagem que dei ai. Fica pra outra hora.
Por mais que a entrevistada diga que o problema somos nós e não os anunciantes, a prática do dia-a-dia nos mostra um pouco o contrário. Querendo ou não o anunciante quer números e números pra ele quem dá é a globo, em horário nobre.
Pra mim o grande problema de a internet não ser enxergada como mais uma mídia, com suas particularidade e peculiaridade, pelos anunciantes é o fato de as grandes agências do país não terem a capacidade de entender isso.
Tanto que na grande maioria das grandes agências, existem os núcleos que são tratados com desdenho, chamado de "pessoal da internet". E isso tem que mudar. Tem que mudar de dentro pra fora.
O anunciante não vai entender de outra maneira, e a própria agência não entende.
A internet é mais um mídia.
A criação deve ser feita conceitualmente e depois de estabelecido esse conceito, ele ser aplicado nas mídias pertinentes para ele. Seja a internet, a revista, a tv ou uma simples ação de PDV.
E como disse a Fer, no comentário anterior. Se tiver que fazer um banner na internet e ele for pertinente, que se faça sem a menor culpa. Mas se for necessária toda uma estratégia que envolva mídias socias, banners, hotsite, filme, textlinks....que se use.
O grande problema é agencia só adaptar um conceito feito para TV, num banner de 12k e achar que isso basta para a propaganda.
Abs!
Essa discussão é fantástica. E deve continuar, pois como já foi dito, estamos num ambiente de transformação, experimentação e consolidação do meio, do modelo de negócio.
Rodrigo, parabéns pela escolha da entrevistada. Sempre bom prestar atenção no que a Ballê tem a nos dizer.
Abs
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