Faz um certo tempo que não me dedico ao blog. Na verdade, muito tempo.
Mas o assunto é importante.
Hoje à tarde estava conversando com um amigo. Ele trabalha em uma tradicional agência de publicidade, a qual, recentemente e a exemplo da maior parte das grandes e tradicionais agências, montou uma equipe para tratar das "novas mídias".
Até esse ponto, tudo ótimo. É bom ver que grandes agências, que têm grandes verbas e anunciantes, estão se profissionalizando e acompanhando os avanços da comunicação. Porém, ele, em meio a um desabafo, relatou seu dia-a-dia e seus "pontos-contra".
Segundo ele, a equipe que se quer "interativa" não conversa entre si.
Minha primeira pergunta foi: como uma equipe cujo propósito é elaborar soluções de comunicação na era digital, interativa e multi-tarefa, não se fala? Cada um faz o seu e no fim junta tudo?
Não existe um coach, um líder, um técnico que promova a integração da equipe e, conseqüentemente, insira em seus integrantes o real espírito de equipe, em que todos se ajudam, evoluem e todos têm o mérito pelos sucessos e as responsabilidades pelos erros?
A resposta dele foi um "não" bem azedo de lamento.
Disse a ele que onde eu trabalho temos um ambiente saudável, trocas de experiências rotineiras. Onde quem sabe mais faz questão de transmitir o conhecimento e não de dizer "eu sei mais que você". Afinal de contas, isso é o que faz de uma pessoa um verdadeiro líder.
Meu amigo me ligou para desabafar e dizer que não faz sentido o que ele faz. O mídia não sabe o nome do criativo, nunca almoçou com ele, e as trocas de experiências são praticamente nulas. Segundo ele, só há troca de erros. Pois os méritos têm dono. E nunca são de todos.
Fiquei realmente preocupado, pois esse amigo trabalha em uma grande agência. Com grandes clientes.
Se a equipe que se quer interativa não interage, como sai a comunicação?
Fiquei me perguntando mais algumas coisas, mas resolvi não falar mais nada para o bem de meu amigo.
Por fim, conclui (mas sem falar mais nada, evitando uma depressão da pessoa do outro lado da linha) que pessoas como ele, que trabalham por prazer e para o bem de seus clientes, ficam cansadas.
Em tempo 1: infelizmente, essa é a realidade da maior parte das agências tradicionais, que implantaram departamentos de internet, interativos, ou seja lá o que for.
Em tempo 2 e não por acaso: Maquiavel debateu o assunto em sua mais famosa obra, "O Príncipe". Os reis (líderes) devem ser amados ou temidos? Fato é que quando ocorre o primeiro caso, ele é seguido e protegido pelos seus liderados. Já no segundo caso, o líder está sujeito ao isolamento e sem seguidores. A obra de Maquiavel põe a nu o interior do homem e revela seus instintos de cobiça e avareza, em que os meios são justificados pelos fins que se almejam chegar.
Impressionante a atualidade de uma obra de 1513.
Em tempo 3: em 08/05, o publicitário Rodrigo Leão escreveu matéria diferenciando "Marqueteiro de Publicitário" em sua coluna no jornal Metro. Vou parafrasear dois trechos. (1) "Para ser marqueteiro é preciso um bocado de egocentrismo, vaidade e desdém pela inteligência alheia. Para ser um bom publicitário, é preciso entender que seu papel é ajudar empresas a se comunicar de uma maneira mais honesta, interessante e relevante" e (2) "Se tem um prêmio de qualquer tipo, entregue por quem quer que seja, sob qualquer pretexto, em qualquer balneário ou cidade turística, haverá um marqueteiro para tentar ganhá-lo, custe o que custar".
É isso.