quarta-feira, 4 de novembro de 2009

Mídias Sociais e a Indústria Informativa

Neste texto, abordarei o uso das mídias sociais pela indústria informativa. Motivo-me na limitada utilização da internet pelos veículos de comunicação, na falta de diversificação, na insistência no modelo de comunicação que não permite retorno do usuário, no uso ferramental das mídias sociais, em detrimento de um conceito concreto.

A internet é participativa e o modelo de comunicação “muitos para muitos”, também conhecido como modelo horizontal, está consolidado. As pessoas querem receber conteúdo do seu círculo social, fazê-lo e recomendá-lo.

Entre os 20 maiores domínios do país estão Orkut, Blogger, Wordpress, Twitter e YouTube. Daqui a pouco, Facebook, bola da vez, estará também. Esses sites vêm crescendo acima da média da internet, ou seja, vêm roubando mercado, tempo de navegação, número de usuários dos sites tradicionais. Por sites tradicionais, entendamos aqueles que dominam o modelo de comunicação “um para muitos”, ou vertical, aquele adotado pelas mídias massivas, em que um centro emissor fala para muitas pessoas. Esse modelo raramente é passível de experiências, ao contrário do modelo horizontalizado de comunicação.

Dito isso, quais motivos levam os principais veículos de comunicação a abrirem mão de um amplo leque de oportunidades e a fazerem uso tático – e não estratégico - das mídias sociais? Um dos motivos, certamente, passa pela falsa idéia perda de audiência que os veículos teriam distribuindo seus conteúdos pela web. O que um líder da indústria da informação deve ter em mente é que seu veículo deve ser o melhor local para abrigar seu conteúdo e receber seu usuário, porém, nunca o único.

Um exemplo prático é o NY Times que, pensando na atração do usuário de fora para dentro, faz grande apropriação das mídias sociais ao usar Facebook, YouTube e Twitter, para ficarmos em três exemplos.

Seu canal no Facebook possui quase 500 mil fãs, pessoas que se identificam com a marca e que querem receber seu conteúdo. Seu principal perfil do Twitter possui mais de 2 milhões de seguidores. Já no YouTube são quase 20 mil inscritos e 600 mil exibições de vídeo. Sim, o The New York Times faz uso de vídeos e não apenas o corriqueiro uso de textos e imagens.

Além da apropriação descrita acima, há também o uso das mídias sociais de dentro para fora dos sites, abrindo espaço para que o usuário compartilhe conteúdo pela rede. Muitos dos principais sites brasileiros não oferecem essa usabilidade às pessoas. Quando oferecem, é de modo tímido, dando a impressão de que o botão "share" faz parte de um protocolo.

Acima, um campo de interação do usuário com a notícia. Ao invés de compartilhar, oferecem a função para impressão. Faça uma pesquisa entre os principais publisher brasileiros e analise se estão fornecendo ferramentas 2.0 ao usuário para que ele alie conteúdo e mídias sociais.

É preciso encorajar as pessoas a compartilhar conteúdo pela rede, motivá-las com uma estética positiva e atraente. Editorialmente, pode-se motivar o usuário a compartilhar conteúdo pela rede também.

Sob o ponto de vista do marketing, ao adotar esse tipo de posicionamento, as empresas apliam seus "inputs" através do uso renovado da tecnologia e recebimento de informações, mostram uma atual cultura e política na empresa, resultando em melhores produtos e serviços, outputs. Ainda sob a ótica mercadológica, ao fazer uso apropriado das mídias sociais, um grupo de comunicação amplia seu alcance, cobertura no meio.

É preciso que façamos uso de todo potencial da rede. E esse potencial está na mão das pessoas. O uso ferramental das mídias sociais apenas minimiza o gap entre as duas realidades.

Aqueles representantes da indústria informativa que começarem a fazer uso efetivo das mídias sociais, provendo treinamento a editores e jornalistas para que esses tenham cada vez mais condições de pensar na geração de conteúdo passível de compartilhamento, estarão criando uma diferenciação, talvez seu próprio oceano azul.


PS: esse texto expõe alguns dos conceitos contidos no livro "Estratégias 2.0 para a midia digital" da Professora Dra. Elizabeth Saad, docente na Escola de Comunicação e Artes da USP, ECA, e coordenadora da pós-graduação em gestão integrada da comunicação digital, Digicorp, na mesma instituição.